Hoje
segurança pública virou jogo do bicho. Todo mundo acha que pode dar o palpite
do dia. Hoje, comentar sobre segurança pública é exatamente como apostar no
jogo do bicho: ninguém pensa por que faz, quais as consequências do que faz,
quem pode prejudicar ou ajudar fazendo aquilo.
Joga-se
porque é parte da cultura, porque é divertido, porque existe a chance de acertar.
Palpita-se porque faz parte da cultura; destrói-se, porque é divertido; critica-se,
porque existe a chance de acertar.
Quando
falo disso, lembro-me do meu artigo de despedia do livro “Diálogos sobre Segurança Pública: o fim do estado civilizado”, no
qual lamento a forma como a segurança pública e a polícia são tratadas pela
maioria das pessoas, com “achismos” e opiniões mal formuladas. Lembro-me de
como já pensei em desistir, em como já lamentei tudo e todos na polícia, na
segurança e na política, como já pensei em parar.
No
entanto, hoje não vim me lamentar, mas expressar minha admiração pelos homens
que conduzem a segurança pública e as polícias, os quais se expõem e tentam,
dirigindo nossa sociedade para tempos melhores. Não é fácil, por óbvio, nem tão
pouco rápido ou certo. No entanto, hoje, não vejo tão somente apostas em
segurança pública.
Não
sei quanto tempo isso vai durar, se é uma nova cultura ou uma chispa passageira
de esperança, mas é certo que hoje a segurança pública está pensando seus problemas
e prospectando possíveis soluções. Deixou-se de tão somente apostar.
É
importante que todos os setores da sociedade - a mídia, o Ministério Público, o
Poder Judiciário, a OAB e os próprios policiais - enxerguem que “fazer polícia”,
controlar o crime e administrar a segurança pública não se trata de fazer
apostas. Não se trata de dar entrevistas e aparecer como o setor de visão
crítica e índole ilibada.
As
pessoas precisam entender que uma disputa institucional não é “quem ganha ou
perde”, porque nesta disputa todos saem derrotados. Adotar políticas públicas
não é ter opinião e uma ideia. Convicções coroam as más decisões, a ignorância
e o erro. Coragem é fundamental, mas não pode ser desprovida de estudo,
preparação, treinamento e reflexão. Não confundam voluntarismo e ímpeto com
loucura e despreparo.
Fazer
segurança pública não é como apostar no jogo do bicho e depois sair criticando
tudo que há de errado no Brasil. Há consequências, há coisas que não se fazem, há
liberações que precisam ser pensadas, há estudos que balizam decisões e
diretrizes. Temos que parar de brincar de falar sobre segurança pública e de seus
administradores. Não falo sobre tudo que existe no mundo simplesmente porque
posso falar. Entrego meu silêncio sobre as várias coisas que não sei.
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